quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Condecorações (Fernando Medeiros)


"Está um vagabundo na noite escura com sua dama e o seu mundo na noite da metrópole impura.
Ironicamente na poluída aragem condecorava a sua vadiagem.
Expunha as medalhas, reunia a malandragem e para as muitas falhas rendia as medalhas em sua homenagem.
Está na noite escura, eu repito, um vagabundo na noite de nosso mundo aflito,
Contradizendo o que acontece na sala dos poderosos.
De medalha, a prostituta mais linda ele abastece.
Há que se notabilizar pelo coito mais produtivo.
Assim distribuía o vagabundo as homenagens com voz sentida, ironicamente a caçoar da vida.
Está um trasmontano condecorando a prostituta que mais lucrou este ano.
Na praça isolada e fria, na noite da metrópole embaçada, personagens em cena de agonia, recebendo seus prêmios na sarjeta da calçada.
A voz do vagabundo se expandia, voz de quem não espera nada mais da vida.
Dramaticamente talvez, cercado de esfarrapados, abandonados, doentes, desamparados de uma urbe sinistra e miserável, gritava e distribuía condecorações para aqueles que viam mortas todas as ilusões.
Decadentes e marginalizados a receber medalhas cinicamente na noite fria da metrópole.
Palco de expectativas ardentes.
Está um vagabundo na noite escura com a sua dama e o seu mundo, na noite, eu repito, da metrópole impura..."

Nenhum comentário: