sábado, 20 de agosto de 2011

Pensando nos miseráveis



Aparentemente são fracos e frágeis: ledo engano. São muito fortes e resistentes. Dormem ao relento junto com seus cães empesteados de carrapatos e doenças. Aguentam sol, chuva e frio. Sua alimentação é precária, contaminada e por vezes estragada. Fazem sexo animalesco com parceiros variados sem qualquer higiene e muito menos preservativos.
São os moradores de rua e, eventualmente, alguns são carrinheiros. Parcos ganhos são gastos com pinga, o melhor cobertor segundo suas palavras. Na promiscuidade total, são alvo fácil da tuberculose, DST, hepatites e HIV. Como não têm regras, não seguem protocolos de tratamento, não se alimentam adequadamente, não fazem repouso e muito menos são agraciados com o benefício do INSS.
Conclusão: essa massa humana desvalida, desprotegida, sem teto, sem roupa, sem nada, doente e infectante, é fonte importante de transmissão dessas mazelas já citadas, como a tuberculose, hepatites e DST.
Cidades com população desta ordem deveriam acionar suas secretarias (Saúde, Assistência Social), além de entidades religiosas e filantrópicas, para contê-los, encaminhá-los e regenerá-los, resgatando condições mínimas para uma vida digna de um ser humano. O Serviço Social de uma cidade, em sintonia com sua Secretaria da Saúde, devem conter e reverter essa situação miserável, forte indicador de um país ainda subdesenvolvido.
Quem escreve tem experiência com essa gente já por mais de trinta anos. Essa população é constituída, em sua maioria, por jovens ligados ao etilismo e às drogas ilícitas, até porque os mais velhos já morreram sem qualquer assistência, seja ela do estado, ou de suas próprias famílias, geralmente desestruturadas, paupérrimas e mentalmente adoecidas. Moram em calçadas, marquises ou sob suas carroças. Tornam-se derrotados, viveiros humanos de doenças, cheios de ira e sensação de abandono, não podendo sequer contar com o recurso da ajuda dos falsos cristãos, mesmo porque, pobres, feios, desdentados e sujos, ninguém os quer por perto.
Obviamente que é muito melhor atender pacientes cheirosos, cultos, que nos pagam e ainda nos proporcionam troca de afagos. Duro é atender estes moribundos no dia-dia, via SUS, dando-lhes atenção e tratamento dignos de seres humanos. Os jovens da área de saúde, nos dias de hoje, não querem e não se sujeitam a este trabalho no front do SUS, até porque os salários são incompatíveis com a aspereza do trabalho. Estou a caminho de aposentar-me em poucos anos e não vejo generalistas se dedicando a esta população carente e doente. Em concurso recente, médicos e paramédicos rejeitam este trabalho por ser árduo e mal remunerado.
Na vida, só se valer de glamour, benesses, honrarias, farta remuneração é fácil. Faz parte dela o lado oposto, o lado cristão, o lado altruísta: é um apelo aos jovens
. (Bruno Pompeu - médico)

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo retrato fiel e genuíno que aqui nos apresenta. Sou uma aluna de Relações Internacionais e, como tal, um dos eventuais cenários com que me depararei será este, dado que o Voluntariado constitui uma das saídas profissionais do meu curso. Foi através de uma pesquisa baseada na minha interminável paixão por viagens que cheguei até ao seu blog. Congratulo-o mais uma vez pelo texto e, consequentemente, pela coragem de explanar ideias que evidenciam realidades completamente distintas e opostas da nossa e que, infelizmente, muita gente parece não querer ver. "O que os olhos não vêm, o coração não sente" é, infelizmente, o adágio popular de que muitos se servem para mascarar uma falta solidariedade inerente a uma sociedade doente, sendo que a ameaça inerente é o egoísmo.
Ana

SELIA disse...

Realmente doí na lama saber que existem tantas vidas vivendo esta triste realidade.

É bom nem pensar se não vou-me entristecer.
O egoismo humano é assim não pensar para não sofrer..