Um dos maiores erros cometidos pela Sociedade Utilitarista é o de colocar a juventude como ideal supremo e o envelhecimento como castigo. O que acabou por contaminar o comportamento de tal forma que as pessoas não mais percebem as maravilhas da maturação enquanto correm atrás do fulgor perdido ou da tal fonte eterna da juventude, imortalizada por Ponce de Leon, que, nos dias de hoje, é representada pelos tratamentos miraculosos da estética, dos botox da vida e de aparelhos fantásticos de rejuvenescimento. A juventude é linda, sim, como um tempo de vida dentro da natureza, mas é um tempo, um estágio, um período que inclui proveitos e pesos, onde os sonhos se expandem, as possibilidades parecem ilimitadas, a potência é plena, a sexualidade está no auge e a emoção se alarga. Mas a maturidade também é maravilhosa, assim como o tempo outonal. Que burila a mente, diminui a expectativa e aumenta a perspectiva de atuar, que pode trazer a lucidez das análises feitas, das separações entre o joio e o trigo e o sabor do entendimento. A importância da fruta verde é definida pelo delicioso de quando está madura para o consumo. É por volta dos 40 anos que surgem questionamentos preciosos, cujos resultados, quando não negados, contribuem de forma clara para a sociedade. O que a visão medíocre do imediato vê como negativo, a abençoada crise existencial – quando surge a terrível pergunta: “O que estou fazendo por mim ou o quero realmente da vida?” – é altamente positiva para todos, não apenas para quem consegue ter a resposta. Temos um duplo juízo: o de pessoas particulares e seres universais. Pois é justamente nessa maturação que percebemos isso com muito maior clareza, à medida que não nos satisfazemos só com o consumo, com o materialismo e o que é oferecido como compensação ao verdadeiramente ansiado. É lindo viver cada tempo desta passagem usufruindo do que pode trazer, ainda que pagando o preço exigido, consciente de que nada volta, mas que tudo se acumula ao invés de desaparecer, que nada se perde quando sabemos dar finalidade a cada favorecimento, assim como arcar com as exigências de cada estágio, lembrando ainda que a mente saudável tende à ordem, enquanto que a pura matéria, tende à desordem. Não basta ser jovem, é preciso perceber o que isso representa: o preparo para o quem vem. Também não basta ser adulto ou idoso, é preciso definir o que isso pode ser de generoso para transmitir e igualmente receber. Reajusta-se esse erro de visão reconhecendo o encantamento em qualquer fase e dando graças pelas experiências adquiridas que levam à evolução. (Luiz Alca de Sant’Anna)
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário