
Mas é tolice lamentar essa realidade de homens não leais. Não se pode fechar o coração em razão de uma minoria. Ou seria maioria? Não posso dizer ao certo, sei apenas que os homens de braços abertos me salvaram de um coração de gelo. E continuam salvando. Eles existem e estão bem aí, embaixo do nosso nariz. Basta reparar. Sei, às vezes é difícil essa percepção porque eles assumem formas inesperadas, infantis e até misteriosas. E não estamos acostumadas a isso. Vemos a fachada, se ela não agrada desistimos de descobrir o que vai dentro. É trabalhoso conhecer o homem que está dentro do homem. Até porque, foram muitas as vezes que descemos à profundeza e não encontramos nada além de pura escuridão.
Não é necessário mais que uma frustração para que a mulher radicalize e torne-se negligente na arte de procurar pistas. Mas, como a vida não nos deixa de instigar, lá vamos nós, corremos léguas à procura de uma pista no meio das trevas. Seguimos o primeiro indício de caminho. Pode ser um ruflar de asas ou um fio de luz. E, de repente, estamos diante de uma grande floresta. Árvores com raízes profundas. Espécies que não se deixam levar por qualquer vento. Uma floresta onde se encontra e se perde toda a sabedoria do mundo. Tudo depende da nossa capacidade de percepção. Não convém arriscar?
Hoje quando vi um espantalho numa horta vizinha, não pude deixar de ficar contente. O museu de pano da memória trouxe à tona a imagem de homens poderosos. Homens de coração limpo e braços abertos. Homens feitos à imagem de Deus e que, muitas vezes, se deixaram crucificar por amor. Poesia? Esses versos vão anoitecer comigo. Versos que eu sei de cor. Também sei de cor tantos nomes, tantas lutas... e ainda, por muito tempo, continuarei a conversar com espantalhos e a acreditar nos homens.