“Ouvindo de um conhecido a expressão, “não gosto do silêncio”, levou-me a pensar: por que muitas vezes fugimos do silêncio?Ligamos a televisão quando estamos sozinhos em casa, mesmo que não olhemos para ela; levamos música quando prevemos uma viagem ou um espaço vazio no dia.É saudável, sem dúvida, o desejo de companhia, o gosto por estarmos ocupados; a música. Somos gente do mundo e este é o nosso lugar, do qual tanto gostamos. Precisamos do ruído, da agitação para nos sentirmos vivos.Porém, faz também parte da nossa natureza o recolhimento. Somos seres racionais: os nossos gestos deviam ser pensados; os nossos sentimentos e as nossas intenções, analisados; devíamos avaliar o significado dos acontecimentos; era preciso que forjássemos uma opinião acerca de muitas coisas, novas e velhas. Devíamos construir os nossos princípios a partir de dentro, e não com base em meia dúzia de anúncios publicitários, no que ouvimos na novela ou no noticiário, ou no que lemos num livro em moda.O silêncio permite-nos ter uma vida por dentro, qualquer coisa que flutua por cima da pressa, da confusão das sensações, das notícias de jornal. Qualquer coisa que para dizer de outra forma permanece em sossego, como o fundo do mar, longe do reboliço superficial das ondas e do vento.É pelo silêncio que se entra nesse lugar. E era importante que lá entrássemos, porque só assim nos aproximaremos da nossa dimensão humana. Todos devíamos ter um pouco de pastor ou de marinheiro, os clássicos vizinhos dos grandes horizontes e das estrelas.É dentro de nós que nos podemos conhecer a nós e ao que verdadeiramente são as coisas, as pessoas e os acontecimentos. Dentro de nós é que havemos de encontrar as sementes do ideal, do sonho nobre, da força para resistir e avançar. Por que fugimos, então, de estarmos a sós conosco mesmos? Por trás de uma série de razões superficiais – não totalmente verdadeiras – como a falta de tempo, de hábito ou de paciência, existe um único motivo real: temos muito medo da verdade; receamos pensar naquilo que nos pode complicar a vida.”
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
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