segunda-feira, 16 de março de 2009

Aumento da depressão em crianças e jovens leva a suicídio


No filme Milk – A voz da igualdade, o protagonista Harvey Milk (interpretado por Sean Penn, que ganhou o Oscar pela atuação) recebe um telefonema crucial na noite em que aguarda o resultado de sua eleição para o cargo de supervisor em São Francisco (Califórnia).
Do outro lado da linha, um jovem do interior dos Estados Unidos ameaça se matar por não conseguir lidar com o preconceito que sofre por ser gay. Sem saber a quem recorrer, liga para Milk, cuja foto viu em um jornal. O político e ativista conversa por alguns momentos com o garoto, mas oferece a ele exatamente o que ele precisa: alguém que o escute.
Na tela, a cena cumpre o propósito de emocionar (e também de incrementar a história). Mas, na vida real, não é tão simples assim. Crianças e adolescentes enxergam no suicídio uma opção para fugir da escuridão em que vivem – e da qual acreditam que não conseguirão sair.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de suicídios entre os jovens aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Mais de 3 milhões de jovens pensam em se matar todos os anos. Entre 1993 e 1998, o índice subiu 40% no Brasil. Em 2006, o Governo Federal publicou a Portaria 1.876/06, que declara o suicídio como problema de saúde pública. Uma das justificativas foi o aumento do comportamento suicida entre jovens entre 15 e 25 anos, em todas as camadas sociais. Desde então, ficou estabelecido que as três esferas de gestão (federal, estadual e municipal) deveriam atuar juntas na prevenção do problema e garantir o acesso a tratamento, cuidados e recuperação.
Assim como o crescimento dos casos de depressão na infância e na adolescência, as taxas de suicídio também estão ligadas à fragilidade dos laços afetivos e à solidão de um mundo em que crianças e jovens vivem sozinhos na multidão, ou seja, problema de “privação emocional”.
Bulimia, anorexia e o uso de drogas também são formas de acabar com a própria vida – a insegurança e a falta de relacionamentos confiáveis geram a busca pela autodestruição.
O ato de acabar com a própria vida ainda representa um tabu na sociedade. Mas hoje, o suicídio está mais próximo de nós do que nunca. Em uma busca simples pela palavra na internet, o site Google mostra quase oito milhões de referências a esse termo, com especificações: “como cometer suicídio”, “tipos de suicídio” e até mesmo “fotos de suicídio”. Em todo o mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata.
Segundo psiquiatras um grande problema do suicídio infantil e juvenil é a notificação. Isso porque, muitas vezes, os pais, médicos e professores não sabem (ou não querem) reconhecer a tentativa da criança ou adolescente de tirar a própria vida. O aumento no número de intoxicações por ingestão de remédios ou venenos pode ser um indicativo das intenções que se escondem por trás de um “acidente”. Muitas crianças e adolescentes exteriorizam sua depressão por meio de dores físicas (de cabeça ou de estômago, por exemplo).
Especialistas na área da psicologia alertam que o ato de se matar é capaz de afetar de maneira negativa até seis outras pessoas, entre amigos e familiares da vítima. “É um choque muito difícil de se recuperar”.
Psiquiatras explicam que, embora a adolescência seja um período conturbado para a maioria das pessoas, por conta das mudanças orgânicas e emocionais dessa época da vida, alguns jovens são mais propensos a sentimentos depressivos. “Um jovem não decide se matar de uma hora para a outra. Há um longo caminho entre o desejo de morrer e a conclusão”.
O perigo da depressão – e o consequente suicídio – pode passar despercebido por pais e professores. “A negação acontece. É mais fácil não olhar e não admitir a própria culpa”.
É importante ter um espaço em casa para as discussões entre pais e filhos. “O grupo de amigos nunca vai substituir o diálogo com a família. Mesmo com a nossa vida agitada, o ideal é prevenir esses problemas e não deixar para o dia seguinte”.

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