Ao entardecer o raio despencou como malho
partindo rochas numa obra doente de cantaria
e o escarcéu se fez com tantos ralhos que
a chuva caiu do céu rasgado e enegrecido
como ventre aberto a força parindo viu
vez chicoteando o mar que se eriçou friorento.
Quantas vezes única vida é preciso morrer
para se provar que nascer já foi valentia?
Uma cabeça gigante balançou para os lados
e tremeu o mundo sacudido por força tamanha
abanando com violência os ventos gelados
boca da noite que se abriu engolindo o dia.
O céu onde deviam morar anjos se fez fétido...
cheirava a enxofre...
e o dragão abriu as ventas
cuspindo mais fogo...
mais raios...
mais ameaças...
uma quantidade de demônios zangados sobre nós
mortos de fome e cheios de ira e desgraças.
Eu pensei nos marinheiros em mar aberto
nos seus frientos pensamentos em seus filhos
no espremer do peito esmagando o coração
na nau de quente e açoitado útero de madeira,
onde eles se aninham tremendo de pavor
ora Deuses... parem com essa brincadeira
busquem na sapiência senil outra diversão.